Tobirama não conseguia pensar em nada além de Nico. Tudo ao seu redor ficou mudo — Madara, Hashirama, a sala do Hokage. O peso do corpo frágil dela em seus braços era a única coisa que importava. Ela estava viva, mas por quanto tempo?
O pânico o atingiu como uma lâmina afiada. Ele precisava agir. Agora.
— Hashirama! — sua voz saiu mais alta e desesperada do que ele gostaria. — A gente precisa fazer alguma coisa! Agora!
Hashirama não discutiu. A expressão séria e determinada tomou conta de seu rosto, e ele já estava ao lado do irmão, observando o estado de Nico.
— A Ito. Precisamos levá-la para a Ito! — Hashirama decidiu rapidamente. — Ela pode salvá-la!
Tobirama não hesitou. Sem esperar mais nada, ele segurou Nico com mais firmeza, dobrando os joelhos e desaparecendo em um piscar de olhos com o Hiraishin.
Madara permaneceu parado. Seus olhos se estreitaram ao ver a cena. Nico deveria estar morta. Ele tinha certeza de que o golpe final havia sido dado, que não havia como alguém sobreviver àquilo. E, ainda assim, ela estava viva.
Os dedos de Madara se fecharam em punhos. Seus planos tinham sido arruinados. Ele sentiu um gosto amargo na boca e apenas se virou, saindo sem ser notado.
Tobirama surgiu na entrada do pequeno hospital improvisado, um prédio ainda em construção que Hashirama planejava transformar em um grande centro de cura para o vilarejo. Mas agora, só existia uma sala funcional.
— Ito! — Tobirama gritou ao entrar apressado, sua voz carregada de desespero.
A médica já estava lá dentro, ajustando ervas e frascos sobre uma mesa. Ao ver Tobirama carregando Nico, seu olhar se arregalou.
— Pela deusa! Coloquem ela na cama, rápido!
Tobirama praticamente jogou Nico sobre o colchão fino, mas com um cuidado quase instintivo. Ele se ajoelhou ao lado da cama, os olhos fixos nela, enquanto Ito já movia as mãos com velocidade, chakras verdes brilhando na ponta dos dedos.
Ela pressionou a palma no peito de Nico, sentindo sua pulsação fraca e descompassada.
— O que aconteceu com ela? — Ito perguntou, seus olhos viajando pelos ferimentos no corpo da garota.
— Ela desapareceu. Foi atacada por Uchihas. — Tobirama respondeu, sua voz carregada de fúria e medo. — Ela lutou sozinha. Está assim porque sobreviveu.
— Maldição... — Ito sussurrou, suas mãos já começando a trabalhar. — O chakra dela está instável. Há queimaduras internas e hemorragias. Eu posso estabilizá-la, mas...
Ela hesitou por um instante, mas então se virou para Hashirama e Tobirama com um olhar sério.
— Ela perdeu muito sangue. Está no limite. Se o corpo dela não resistir ao tratamento…
Tobirama sentiu seu estômago afundar.
— Ela vai resistir. — Ele disse, com uma certeza quase arrogante. — Ela é forte.
— Espero que sim. — Ito murmurou, sem tirar os olhos de Nico. — Porque se não for… não há nada que eu possa fazer.
Tobirama se recusava a aceitar essa possibilidade.
Ele segurou a mão fria de Nico, apertando-a levemente.
— Aguente, Nico. — Ele sussurrou, baixo o suficiente para que apenas ela pudesse ouvir. — Você prometeu que não ia me deixar.
Tobirama estava do lado de fora, o frio da noite cortava sua pele, mas ele mal sentia. Seu corpo estava ali, mas sua mente estava um turbilhão. Ele fechou os olhos, e tudo o que via era Nico em seus braços, fraca, quebrada, ferida de um jeito que ele nunca pensou que veria.
Ele apertou os punhos, sentindo as unhas cravando em sua própria pele. O que ele podia fazer? Ele era um shinobi, um estrategista, alguém que sempre encontrava uma solução lógica para qualquer problema. Mas agora… ele não podia fazer nada.
Ele se sentia impotente.
A cada segundo que passava, ele se perguntava se teria chegado tarde demais. E se ela nunca mais abrisse os olhos? E se a última vez que ouviu sua voz foi antes de vê-la desaparecer?
O peito dele doía com esses pensamentos, e ele teve que respirar fundo para manter o controle. Mas como manter o controle quando tudo dentro dele estava desmoronando?
Foi quando ele sentiu uma mão firme pousar em seu ombro.
— Ela vai ficar bem.
A voz de Hashirama era suave, mas carregava uma firmeza que só ele conseguia ter. Tobirama não respondeu de imediato. Ele simplesmente abaixou a cabeça, deixando o silêncio falar por ele.
Ele queria acreditar. Queria muito acreditar.
Mas… se não ficasse?
A simples possibilidade fez algo dentro dele se quebrar ainda mais.
Então, de repente, ele limpou o resto das lágrimas que ainda estavam em seu rosto e se virou para Hashirama. Seu olhar, antes carregado de dor, agora era puro aço.
Num movimento rápido e feroz, ele agarrou o colarinho do irmão e o empurrou contra a parede.
— Se o seu amiguinho Uchiha tiver envolvimento nisso… — A voz de Tobirama era baixa, mas cheia de uma fúria fria e contida. Seus olhos vermelhos de raiva cravaram-se nos de Hashirama. — Eu juro que vou matá-lo. Sem piedade alguma.
Hashirama, pego de surpresa, não reagiu imediatamente. Ele viu a dor no olhar do irmão, a raiva que nascia do medo, do desespero.
Ele tentou pensar em algo lógico para dizer, alguma justificativa, mas nada veio.
Então, ele apenas suspirou.
— Eu vou investigar. — Ele disse, sério pela primeira vez em muito tempo. — Se Madara tiver qualquer envolvimento, as coisas vão mudar. Ele vai pagar. Foi um crime atacar um clã aliado… e mais do que isso, Nico é da nossa família.
Foi apenas nesse momento que Tobirama percebeu que estava apertando o colarinho do irmão com força. Ele respirou fundo, fechou os olhos por um momento e então o soltou.
— Desculpa. — Ele disse, sua voz mais baixa agora.
— Está tudo bem. — Hashirama respondeu, se ajeitando e dando um leve sorriso. — Eu entendo.
Tobirama não respondeu. Ele simplesmente se virou novamente e sentou-se no chão, encostado na parede. Seus olhos voltaram para a porta da sala onde Ito cuidava de Nico.
Ele não sairia dali até vê-la de novo.
Dentro da sala, Ito suava.
Suas mãos brilhavam em um chakra esverdeado enquanto trabalhava em Nico, mas os ferimentos eram severos. O corpo da garota estava um desastre. Hematomas profundos, lacerações abertas, fraturas internas.
E o pior de tudo… as queimaduras causadas pelo próprio chakra Raiton dela.
Ito pressionou uma das feridas abertas no abdômen de Nico, tentando estancar a hemorragia interna.
— Droga, droga… — Ela murmurou para si mesma. “O corpo dela não está respondendo bem à cura.”
A técnica médica ajudava, mas os danos eram profundos demais para cicatrizarem com facilidade.
Ela sentiu a pulsação de Nico de novo. Fraca, mas ainda ali.
— Você é forte, garota. Segura firme. — Ito sussurrou, enquanto acelerava seus jutsus.
Com precisão cirúrgica, ela começou a regenerar os tecidos danificados, mas algumas partes do corpo de Nico estavam além de uma simples regeneração.
Ela teria que fazer cirurgias de alto risco.
Ao terminar os primeiros socorros, Ito limpou o suor da testa e saiu da sala.
Assim que Ito saiu, Tobirama e Hashirama se levantaram imediatamente.
Tobirama avançou antes mesmo de ela dizer qualquer coisa.
— Ela está bem?!
Ito soltou um longo suspiro, passando a mão pelos cabelos.
— Ela está viva. — Ela começou. — Mas está muito quebrada por dentro.
Tobirama prendeu a respiração.
— E agora?
— Agora… eu preciso operar. — Ito respondeu, séria. — Várias cirurgias, e algumas delas são de alto risco. Se derem errado…
Ela não precisou terminar a frase.
O coração de Tobirama parecia que ia sair do peito.
— Faça o que for necessário. — Ele disse, a voz firme, mas o olhar desesperado. — Eu não ligo do que precisar. Só salve ela.
— Tobirama… — Hashirama começou, mas foi interrompido.
— Eu não vou sair daqui. — Tobirama disse, olhando diretamente para Ito. — Até ela acordar.
O tempo parecia uma eternidade para Tobirama.
Ele continuava sentado do lado de fora, os cotovelos apoiados nos joelhos, os olhos fixos no chão, mas a mente não estava ali.
As lembranças vinham como uma correnteza incontrolável.
Ele e Nico eram crianças quando se conheceram.
Era um dia frio, e o céu carregava o peso cinzento da guerra. Os adultos estavam ocupados, discutindo estratégias, decidindo quem lutaria e quem morreria no campo de batalha. Mas ele e Nico… eles eram apenas crianças forçadas a viver em meio ao caos.
Ele se lembrava do primeiro olhar que trocaram.
Os olhos dela eram vivos, mas ao mesmo tempo, havia uma tristeza ali. A mesma que ele carregava consigo. Não trocaram palavras no início, mas no fundo, se reconheceram.
Então veio aquele dia perto do rio. Estavam pescando. Não porque queriam, mas porque precisavam comer. Era um mundo cruel, onde até mesmo crianças tinham que garantir sua sobrevivência.
— Você não sabe pescar, né? — Nico zombou, segurando a vara de pesca com um sorriso de canto.
Tobirama arqueou uma sobrancelha.
— Eu sei o suficiente para te ensinar.
Ela riu, balançando a cabeça.
— Então me ensina, sensei.
Foi um momento breve, mas era um daqueles onde a guerra não existia. Onde eles podiam apenas ser crianças.
Mas a guerra não os deixaria ser apenas isso. Os anos passaram. A guerra consumiu suas infâncias, mas não destruiu o que tinham. Então, veio a paz.
Com Hashirama criando sua vila, as batalhas finalmente cessaram. Mas foi durante o jantar que celebrava essa nova era que algo realmente mudou entre eles.
Tobirama se lembrou da sensação do corpo de Nico próximo ao seu. O silêncio carregava algo muito mais profundo do que palavras. Ela deu um passo à frente, e ele sentiu o coração bater forte. Quando finalmente se moveram, foi como se estivessem esperando por aquilo por anos.
O beijo foi intenso, carregado de desejo reprimido e ternura ao mesmo tempo. As mãos de Tobirama seguraram o rosto dela com delicadeza, enquanto ela o puxava mais para perto, os braços ao redor de seu pescoço.
— Nico... — sussurrou ele contra os lábios dela, sua voz rouca, cheia de emoção.
Ela não respondeu—apenas o puxou mais.
O toque dos lábios, a respiração entrecortada, o mundo ao redor desaparecendo...
E agora, ele estava ali, do lado de fora daquela sala, esperando que ela voltasse para ele.
O presente voltou como um choque.
— Tobirama.
Ele piscou, despertando do turbilhão de memórias.
Ito estava ali, de pé diante dele.
— Acabei.
Ele se levantou num instante.
— E então?!
Ela suspirou, cruzando os braços.
— Ela não corre mais risco de vida.
Ele sentiu o coração finalmente respirar. Mas antes que pudesse se sentir completamente aliviado, Ito continuou:
— Mas ela vai demorar para acordar. O corpo dela passou por um trauma muito grande.
O peso no peito dele não desapareceu completamente.
— Eu posso vê-la?
Ito o analisou por um momento antes de suspirar e acenar com a cabeça.
— Sim. Mas sem mexer nela.
Tobirama não hesitou.
Ele queria apenas vê-la. Certificar-se de que ela ainda estava ali.
—------
A sala estava silenciosa, apenas o som dos estalos da madeira queimando no braseiro preenchia o espaço. Taichi manejava sua katana com precisão enquanto explicava algo para Mifune.
— Meu pai me ensinou essa técnica quando eu era pequeno. — Taichi girou a lâmina em um movimento fluido, fazendo um arco cortante no ar. Os olhos de Mifune acompanharam cada movimento, atento.
— É como o estilo Battojutsu, mas adaptado para um combate mais contínuo, não é? — Mifune comentou, cruzando os braços e analisando a postura do amigo.
Taichi sorriu.
— Exatamente! A ideia é que, ao invés de um único golpe decisivo, eu consiga manter um fluxo constante de ataques rápidos e imprevisíveis.
Ele se moveu novamente, demonstrando uma sequência de cortes que pareciam desordenados até que, no final, tudo se encaixou em um golpe perfeito.
Mifune soltou um assobio impressionado.
— Tsc. Não esperava menos de você.
Taichi riu, girando a espada uma última vez antes de embainhá-la.
— Não é incrível? Esse foi o jeito do velho de me preparar para qualquer situação. "Você nunca sabe quando seu adversário vai ser mais rápido", ele dizia.
A conversa fluía leve, até que ouviram batidas na porta.
Taichi, sempre energético, abriu a porta com um sorriso largo.
— Ora, ora, ora! A quem devo a honra da visita?
Ele cruzou os braços, olhando Hashirama de cima a baixo antes de apontar para ele com um ar brincalhão.
— Onde já se viu? Seu irmão, aquele Zé Ruela, pede a minha irmã em casamento e some! Nem visita o futuro cunhado! Eu estava começando a achar que ele só queria o status de se casar com um Seiryūsha.
Ele riu alto, esperando que Hashirama entrasse na brincadeira.
Mas não houve risada de volta.
Hashirama, que sempre completava suas piadas, dessa vez manteve o rosto sério.
Taichi imediatamente notou a diferença. O sorriso dele vacilou um pouco, e ele estreitou os olhos, percebendo que algo estava errado.
— Hashirama… O que aconteceu?
O Primeiro Hokage suspirou.
— Podemos nos sentar?
Taichi deu passagem, agora completamente atento.
Eles se dirigiram para a sala, onde Mifune permaneceu em silêncio, observando a tensão crescente.
Sem rodeios, Hashirama explicou tudo.
O desaparecimento de Nico. O estado em que foi encontrada. As cirurgias de emergência. Os Uchihas envolvidos.
Cada palavra era um soco no estômago de Taichi.
Ele ficou sem reação por um momento.
Era como se tudo dentro dele estivesse tentando processar ao mesmo tempo: o choque, a raiva, o medo.
Quando finalmente falou, sua voz estava rouca.
— Ela sumiu esse tempo todo… e ninguém me contou?!
Hashirama abaixou a cabeça por um momento.
— Não queríamos que você agisse por impulso. Seu olhar encontrou o de Taichi. Você sabe que teria ido atrás dela, não importa o que acontecesse. O clã precisava de você.
— E minha irmã também precisava! — Taichi se levantou bruscamente, os olhos faiscando de indignação.
Mifune colocou uma mão no ombro dele, um gesto sutil, mas que impediu Taichi de perder completamente o controle.
Então veio a parte que deixou tudo ainda pior.
— O que Madara disse sobre isso? — Mifune perguntou.
— Que não sabia de nada.
O silêncio na sala ficou pesado.
— Mentira. — Taichi cuspiu a palavra como veneno. Ele sabia.
Mifune e Hashirama trocaram olhares.
— Como pode ter tanta certeza? — Hashirama perguntou, agora atento.
Taichi apertou os punhos.
— Porque eles estavam juntos na viagem. Madara sabia exatamente os passos de Nico. Se ela desapareceu, ele sabia.
Hashirama passou a mão pelo rosto, tentando conter o peso da revelação.
— Eu vou investigar isso, Taichi. — Ele disse, tentando acalmá-lo.
Mas Taichi já estava decidido.
— Eu preciso ver minha irmã. Agora.
Hashirama viu a fúria nos olhos do amigo. Não podia culpá-lo.
— Eu te levo até ela.
Taichi respirou fundo, tentando se conter. Ele olhou para Mifune, que até então permaneceu calado, e o amigo se aproximou.
Mifune o abraçou.
Não precisava de palavras elaboradas.
Aquele gesto era uma mistura de respeito, empatia e apoio.
— Sinto muito, Taichi. — Ele murmurou, com sinceridade.
Taichi fechou os olhos por um momento e assentiu. Hashirama fez um sinal, e juntos, eles partiram.
Tobirama entrou no quarto, e o ar carregado de cheiro de ervas medicinais e tecidos limpos envolveu seus sentidos. O ambiente estava silencioso, exceto pelo som baixo da respiração de Nico.
Lá estava ela.
O peito dele apertou ao vê-la tão frágil, coberta por curativos e faixas. Os hematomas ainda visíveis em seu rosto contrastavam com a palidez de sua pele. Ela parecia menor assim, deitada na cama, como se toda a força e determinação que sempre carregava tivessem sido arrancadas dela à força.
Um nó se formou em sua garganta. Ele não deveria ter deixado isso acontecer.
Seu coração batia pesado no peito, e a culpa o corroía como um veneno.
"Eu deveria ter estado lá. Eu deveria ter impedido isso."
Mas agora era tarde demais para "deveria". Ela estava ali, entre a vida e a morte, por um erro que ele nunca se perdoaria.
Tobirama se aproximou devagar, cada passo um peso, como se a própria gravidade estivesse puxando-o para baixo.
Os dedos dele deslizaram com delicadeza sobre a mão dela—uma das poucas partes de seu corpo que já havia sido completamente curada. A pele dela estava mais quente do que antes. Era um sinal de que ela estava melhorando.
Isso trouxe um alívio amargo.
Ele olhou para o rosto adormecido de Nico e se perguntou quanto tempo levaria até que ela abrisse os olhos novamente.
Aqueles olhos...
Os olhos mais lindos e serenos que ele já tinha visto.
E agora estavam fechados.
Tobirama se ajoelhou ao lado da cama, segurando a mão dela com ambas as suas. Ele a levou até seus lábios e depositou um beijo ali, sentindo o calor suave contra sua boca.
— Vai ficar tudo bem, Nico... — sussurrou, a voz embargada. — Eu prometo.
Ele sentiu os olhos arderem, e pela primeira vez em muito tempo, não conteve as lágrimas.
Elas escorreram silenciosas, caindo sobre os lençóis, enquanto sua culpa se tornava um peso insuportável.
Por um instante, ele apenas ficou ali, segurando a mão dela com cuidado, como se temesse quebrá-la ainda mais.
— Você é tão teimosa... — murmurou, com um sorriso amargo.
Ele queria tanto vê-la abrir os olhos. Queria tanto ouvi-la resmungar sobre como ele exagerava nas preocupações, ou zombar dele por ficar sério demais.
Mas tudo o que tinha agora era aquele silêncio angustiante.
Os olhos vermelhos de Tobirama brilharam sob a fraca luz das velas. Ele se ajoelhou ao lado da cama, trazendo a mão dela até seus lábios, pressionando um beijo ali com ternura.
— Vai ficar tudo bem, Nico. — Sua voz saiu rouca, baixa, carregada de emoção. — Eu prometo.
Então, um som de passos na porta.
Tobirama olhou para trás e viu Taichi parado ali.
Diferente do habitual, Taichi não fez piada, não sorriu, não provocou. Seu rosto estava rígido, mas os olhos entregavam tudo: ele estava destruído.
Ele entrou no quarto e assim que viu a irmã deitada naquela condição, a expressão se desfez.
Os ombros dele tremeram, e ele ficou ali, parado, como se seu corpo tivesse congelado diante do choque.
— Não… — sussurrou, a voz quase sem força. — Não, não pode ser…
Seus pés pareciam pesados, mas ele avançou, até finalmente estar diante dela.
Seus olhos foram percorrendo os ferimentos, cada um deles perfurando seu coração como facas.
— Ela… Ela estava bem… Ela estava aqui há pouco tempo, eu… — Ele parou, tentando processar tudo. — Como isso aconteceu? Como eu não soube?
Tobirama suspirou.
— Tentamos não preocupar você. Sabíamos que você viria atrás dela e o clã precisa de um líder presente.
Taichi riu sem humor, um riso curto e amargo.
— Que tipo de líder sou eu, então? Se não consigo nem proteger minha própria irmã?!
Ele apertou os olhos, os punhos cerrados ao lado do corpo.
— Se eu fosse mais forte... se eu fosse mais atento, essa missão teria vindo para mim. E ela nunca teria se machucado.
Tobirama balançou a cabeça.
— Você não podia prever isso.
— Mas eu deveria! — gritou Taichi, a voz falhando no final.
Seu peito subia e descia de forma errática, o coração batendo forte contra as costelas. Ele respirou fundo, tentando se acalmar, e olhou para Tobirama com olhos escuros de dor.
— Me dá um momento com ela?
Tobirama hesitou por um instante, então assentiu.
— Claro. Qualquer coisa, estarei lá fora.
Ele lançou um último olhar para Nico e saiu do quarto, fechando a porta atrás de si.
Assim que Tobirama saiu, Taichi desmoronou.
Ele caiu de joelhos ao lado da cama, como se as pernas tivessem finalmente cedido sob o peso da culpa.
— Nico…
Seu corpo começou a tremer e, antes que pudesse impedir, as lágrimas vieram.
Ele pegou a mão dela com ambas as suas e a segurou contra o peito, como se aquilo fosse o suficiente para acordá-la, para trazê-la de volta.
— Me perdoa… — Sua voz era apenas um sussurro entre soluços. — Eu devia estar no seu lugar… Eu devia ter impedido isso…
As lágrimas caíram sobre a pele dela, mas ela não podia enxugá-las, não podia dizer que estava tudo bem.
Ele se inclinou para frente, encostando a testa na mão dela, e ali ficou, os ombros tremendo com o choro silencioso.
E pela primeira vez em sua vida, Taichi se sentiu completamente impotente.
Taichi saiu do quarto em silêncio. O coração ainda batia pesado no peito, e a dor em sua expressão deixava claro que, por mais que tentasse esconder, ele ainda estava destroçado.
Assim que cruzou a porta, viu Tobirama ali, sentado no chão, encostado na parede ao lado do quarto. Os olhos vermelhos estavam baixos, fixos em um ponto qualquer do chão, e sua expressão era mais suave do que Taichi imaginava que ele fosse capaz de demonstrar.
Ele não precisava perguntar nada.
O modo como Tobirama permanecia ali, como se recusar a sair fosse uma forma de protegê-la, já dizia tudo o que Taichi precisava saber.
Sua irmã tinha encontrado uma boa pessoa para se casar.
Taichi respirou fundo e cruzou os braços, observando o homem ao seu lado por um instante antes de falar, sua voz um pouco mais firme agora:
— Ela vai melhorar logo. E vocês vão ficar juntos de novo.
Tobirama levantou o olhar e encontrou o dele. Havia algo de solene em sua expressão, mas também algo quase... vulnerável.
— Eu não vejo a hora disso. — Sua voz era baixa, mas carregada de certeza. — Eu vou cuidar dela para sempre.
Taichi arqueou uma sobrancelha, um sorriso leve surgindo no canto dos lábios.
— Bonito isso. Parece até promessa de casamento.
Tobirama bufou uma risada, balançando a cabeça, mas Taichi viu como seus olhos brilharam levemente, como se já tivesse pensado naquilo antes.
— E não é?
O irmão de Nico piscou, surpreso com a resposta direta. Mas antes que pudesse fazer um comentário, Tobirama continuou, a voz firme e inabalável:
— Eu não vejo a hora de casarmos. Quero estar ao lado dela sempre. E, acima de tudo, nunca vou deixar nada acontecer com ela de novo.
As palavras eram sinceras. Não era apenas um juramento; era um propósito.
Taichi sentiu uma fisgada no peito.
Ele sabia que Tobirama amava sua irmã. Mas ouvi-lo dizer tão abertamente que ia protegê-la, que ia cuidar dela, apenas reforçava a sensação de que ele próprio tinha falhado.
Ele deveria ser essa pessoa para Nico.
O irmão dela. Seu protetor.
Mas agora, estava passando essa responsabilidade para outro.
Por um instante, ficou em silêncio.
Tobirama percebeu.
O olhar se fixou nele, atento.
— Não foi isso que eu quis dizer. — Tobirama se apressou em esclarecer. — Não estou dizendo que você falhou, Taichi.
Taichi forçou um sorriso e deu de ombros.
— Eu sei. — Mas sua voz não tinha a mesma convicção de antes.
Ele suspirou pesadamente e esfregou a nuca, tentando afastar os pensamentos.
Precisava focar no que realmente importava agora.
Nico não tinha sido atacada por acaso.
— Eu tenho certeza que Madara está envolvido nisso. — Ele finalmente disse, a voz carregada de firmeza.
Os olhos de Tobirama se estreitaram.
— Você também acha?
— Tenho certeza. — Taichi cruzou os braços. — E, se você for parar para pensar, faz todo o sentido.
Tobirama assentiu lentamente.
— O líder do clã Uchiha disse que não sabia de nada. Mas isso não significa que eu confie nele.
— Madara e Nico estavam viajando juntos. — Taichi franziu a testa. — Você acha que ele não sabia exatamente os passos dela?
Tobirama sentiu a raiva crescer dentro dele.
Desde o início, algo estava errado.
Ele não confiava em Madara. Nunca confiou.
E agora, tudo estava se encaixando.
— Precisamos descobrir mais.
Taichi sorriu de lado, agora sentindo a energia voltando.
— Agora sim estamos falando a mesma língua, cunhado.
Tobirama arqueou uma sobrancelha, mas não contestou o apelido. Pela primeira vez naquela noite, eles tinham um propósito além da dor.
Eles tinham um plano.
Tobirama e Taichi estavam imersos em sua conversa, trocando possibilidades e traçando estratégias para expor Madara. Ambos tinham certeza de que ele estava envolvido no ataque. O problema era como provar isso.
— Se conseguirmos alguma evidência de que ele sabia para onde Nico estava indo... — Taichi ponderou, os olhos brilhando com a centelha de um plano.
— Ou se encontrarmos os responsáveis diretos e os fizermos falar. — Tobirama completou, o tom frio, mas carregado de determinação.
Antes que pudessem ir mais longe, uma voz suave e firme os interrompeu:
— Nico precisa descansar.
Os dois se viraram e viram Ito se aproximando, a postura elegante e o olhar gentil, mas firme.
Ao lado dela, Hashirama mantinha a expressão mais séria do que o normal.
— Eu entendo que vocês estão preocupados, mas ela precisa de silêncio e tranquilidade para se recuperar. — Ito continuou, lançando um olhar especialmente para Tobirama, que não saía dali por nada.
— Eu não vou perturbar Nico. — Ele respondeu sem hesitar, cruzando os braços. — Mas vou ficar aqui, do lado de fora.
Ito observou por um instante, como se considerasse contestar. Mas no fim, suspirou e assentiu.
— Certo. Mas nada de entrar.
Tobirama apenas inclinou a cabeça, sem confirmar nem negar.
— Taichi. — Hashirama chamou, atraindo a atenção do rapaz. — Precisamos conversar sobre algumas questões do clã. Agora que Nico está desacordada, acho que seria bom resolver isso.
Taichi hesitou, olhando na direção do quarto da irmã. Mas sabia que, no momento, não havia nada que pudesse fazer ali.
— Tudo bem. Vamos.
Ele lançou um último olhar para Tobirama, que já estava novamente encostado na parede ao lado da porta. Ainda firme em seu posto.
O tempo passou.
Os sons no corredor se dissiparam.
Tobirama continuou ali, imóvel.
Ouviu os passos de Hashirama e Taichi sumindo na distância. Ouviu o leve ranger das tábuas conforme Ito se afastava.
E esperou. Ele observou a porta, seus pensamentos um caos silencioso dentro de si. E quando teve certeza de que estava sozinho, empurrou a porta e entrou no quarto.
A luz das velas lançava sombras suaves sobre o rosto de Nico.
Ela parecia tão... frágil.
Seu peito subia e descia lentamente sob os lençóis. O corpo ainda coberto por faixas, cicatrizes recentes despontando entre os curativos. A pele outrora vibrante agora parecia pálida e delicada.
Tobirama caminhou até a beira da cama, seu coração pesando no peito.
Ele estendeu a mão hesitante, os dedos pairando sobre a dela.
Parecia quente. Seu coração se apertou. Ele não sabia se sentia alívio ou desespero. Ela estava viva. Mas ainda não estava com ele.
"Eu prometi que protegeria você..."
Ele mordeu o lábio, sua frustração fervendo sob a pele.
"E falhei."
Lentamente, ele deslizou os dedos sobre a mão dela, sentindo a pele suave contra a sua. Fechou os olhos por um momento, apenas absorvendo aquela sensação.
Mas então, algo aconteceu.
Um movimento sutil. Um estremecimento. Tobirama congelou.
E então, os olhos dela se abriram levemente. Seu coração parou por um instante.
Ele se inclinou, sem ousar respirar. Os cílios de Nico tremularam e ela piscou, tentando ajustar a visão.
A primeira coisa que viu... foi ele.
Um choque percorreu o corpo de Tobirama, e ele sentiu o peito se expandir em uma felicidade pura e crua.
— Nico... — A palavra quase não saiu, embargada pelo alívio.
Os olhos dela estavam turvos, a consciência ainda vacilante, mas ela o viu.
Os dedos dele apertaram os dela, com um toque reverente.
— Estou aqui. — Ele sussurrou, sua voz baixa e carregada de emoção. — Vai ficar tudo bem.
E pela primeira vez em dias, Tobirama sentiu que podia respirar novamente.